Sétimo dia. Uma morte (ou duas?), uma missa que nunca começa (ou que nunca acaba?), um delírio. Ou será pesadelo? Liturgia da palavra, penitências, eucaristias. Altar ou picadeiro? Corpos presentes. Barulhos de trovão. Sagrado e profano. “Eu já não sei mais por quem choro...”
O universo masculino em foco. Homens que falam pouco, que economizam palavras. Marmanjos para quem conversar é complicado demais, feminino demais. “Homem falando com homem pode ser um desastre.” Mas guardar tudo dentro de si também é desastroso, dolorido. Ressentimentos, lacunas, silêncios demais. Depois, como acertar o que não foi dito? Culpas, cobranças, contas. “Todo mundo sabia. Só não se podia falar, só isso, era complicado.”
Tentativas frustradas, desabafos retardatários, agressões mofadas. Ainda dá tempo de se falar? “Você não queria que eu falasse, que eu perguntasse? Eu estou falando da minha guerra.”
Um filho: “Então, por que você nunca me ensinou? Eu não sabia que você pensava desse jeito tão liberal... Pai, você me conta uma história?”
Um pai: “Você sempre foi mais ligado na sua mãe, não prestava atenção em mim. Eu também estava lá, mas você não me via.”
Um intruso: “Você olhou bem pra mim, pra minha idade, pra minha bengala...? Eu sou uma obsessão na sua vida e não sabia.”
Nas profundezas de cada corte, elas, as mulheres. “As mulheres de nossas vidas.” A poderosa, a marcante, a dominadora figura feminina por trás de cada palavra, de cada gesto, de cada angústia.
“Sua ex-mulher te contava tudo?”
“Eu, ela... é a mesma vida”
“Mas minha mãe não vem?”
“Você torcia pelo romance extraconjugal de sua mamãezinha querida, seu fedelho.”
Todos os riscos, os deliciosos riscos do jogo da sedução. “Um pouco de pimenta vermelha dentro daquela casinha verde-e-amarela...” Medo, frio na barriga. O mel escorrendo. “Vá aprender a seduzir...” “Mas eu não quero ser um inconseqüente.” “Vilão, quem falou em vilão?”
Lições, sermões, advertências e pregações. “Não adianta tanta fortaleza, o chão do mundo é feito de areia movediça...” “Quanta sabedoria repentina. Quanta amargura...” “É assim. É da natureza.” Um conselho de pai, vindo de uma citação de Jean-Paul Sartre, filósofo, sexo masculino: “A gente se desfaz de nossas neuroses, mas não se cura de si próprio.”
Afinal, não vai ter missa?
(Dib Carneiro Neto)
* Esse é o texto de apresentação da peça "Adivinhe quem vem para rezar", escrito pelo próprio autor !
A peça é linda. Mescla diálogos cínicos, irreverentes, pesados, suaves... como qualquer diálogo entre pai e filho. Dramas familiares, confusões, revelações... além de um elenco maravilhoso: o mestre do teatro, Paulo Autran, e o ator Claudio Fontana(não tão reconhecido, mas com um talento incrível)....
Enfim, uma peça inteligente, divertida e emocionante, como o próprio Autran definiu.
Vale a pena dar uma conferida !
segunda-feira, março 06, 2006
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Um comentário:
ótimo texto! Deu mais vontade de vê a peça! Tá em cartaz onde mesmo?
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